A grande maravilha quando passamos muito tempo rodeados de crianças, é que voltamos a sentir curiosidade pelas coisas mais pequenas, voltamos a desenvolver um sentido de exploração e de criação que parecia estar esquecido no mais ínfimo de nós. É absolutamente encantador a forma como, quase todas as crianças, são de uma sensibilidade e intuição fora do vulgar, ao mesmo tempo que, é absolutamente assustador a forma como a maior parte dos crescidos parece ter-se distanciado tanto de si próprio, ao ponto de, ter perdido uma das suas facetas mais acutilantes.
É como se à medida que se cresce, toda a magia se fosse apagando… um dia deixamos de acreditar no Pai Natal, no outro dia, deixamos de acreditar nos nossos sonhos, depois, aos poucos, vamos deixando de colocar questões (e, a idade dos porquês - não tenha dúvidas! - sempre foi uma espécie de alavanca de nós próprios), passamos a piloto automático e deixamos de acreditar nos nossos sinais mais subtis e na nossa sensibilidade (ou, em circunstâncias limite, deixamos que desapareçam).
Às vezes, é como se os crescidos estivessem tão afastados de si próprios, que mais parecessem desligados, e este estado de estar ‘ausente’, pode tornar-se uma luta com as crianças que vivem perto de cada adulto, que, de repente, saltam para o campo dos crescidos mais rápido, e parecem também elas já ter deixado cair a sua luz e a sua capacidade de questionar e acreditar… Nestas circunstâncias, os crescidos dessintonizam-se não só de si, mas também do mundo e das crianças, pois parece-lhes impossível, alguns dos voos das crianças, por exemplo, que elas tenham medo de um fantasma - afinal, quem com juízo, acredita num fantasma? -, parece-lhes impossível que elas sejam capazes de construir histórias e fantasias, que sejam capazes de perceber que a mãe está triste, mais depressa que a própria mãe, ou que, se sintam gratas pelas mais pequenas coisas…
É quando os adultos se desligam de si próprios, que tudo parece confuso para as crianças à sua volta, que, a certa altura, parecem ter de explicar tudo aos adultos, parecem ter de falar e sentir por eles… E assim, aos poucos, crianças e adultos vão soltando as suas mãos! A não ser, quando o mais trágico acontece (e não raras vezes acontece!), para se ligarem aos adultos que amam, as crianças perdem a sua criança e viram pequenos adultos… E não há dúvidas que, nenhuma criança devia crescer muito rápido para ser uma amostra de adulto, mas todos os adultos deviam - em alguns aspectos, continuar a ficar pequeninos - ser amostras de crianças.
Pois - acreditem! - só perdemos a ligação connosco próprios, só deixamos de ser sensíveis e intuitivos, só deixamos que a luz se apague… quando deixamos de acreditar em nós e no mundo à nossa volta, quando aos poucos nos fomos deixando amputar do melhor de nós.
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