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Será que os rótulos e os diagnósticos nos ajudam?

Ao longo do nosso crescimento vamos consolidando dentro de nós todas as perspetivas e expectativas que os outros têm acerca de tudo aquilo que nós somos. E a verdade é que, muitas vezes, acabamos por nos deixar influenciar em excesso por essa percepção dos outros e acabamos por nos deixar ficar numa zona de conforto - extremamente desconfortável -, que remete para o lugar no qual os outros nos reconhecem.


A verdade é que teimamos em classificar as pessoas, nomeadamente as crianças e a atribuir-lhes rótulos, desde rótulos mais simples como “é preguiçoso”, “é distraído” até rótulos mais complexos, como “é hiperativo” ou “está no espectro". Atribuímos estes rótulos de forma quase imediata e sem pensar nas consequências que eles podem vir a ter no desenvolvimento de uma criança e da sua estrutura de personalidade. Isto é, esquecemo-nos demasiadas vezes que sempre que atribuímos um rótulo, por norma, ele acompanha a criança até à idade adulta e fica impregnado nela como se de uma tatuagem se tratasse.


E será que esse rótulo além de acompanhar a criança até à idade adulta a ajuda - ou ajuda quem está à sua volta - de forma clara e compreensiva? Ou será que este rótulo apenas permite que crianças e adultos à sua volta se desresponsabilizem dos seus atos porque existe um rótulo? Afinal quantas vezes, não vimos adultos a deixar de se desafiar e a desculparem-se atrás de um “esqueci-me, porque sou distraído, sempre fui assim!”, ou de um “sou preguiçoso, não é defeito é feitio!”. E, ao mesmo tempo, quantas vezes não vemos adolescentes que dizem “não sou inteligente, não vale a pena estudar”, e desacreditam neles próprios porque sempre ouviram dizer “ele não é inteligente, só tem negativas”.


Perante tudo isto, aquilo que nos esquecemos é que em tudo aquilo que é o nosso mundo emocional e a nossa estrutura psíquica, a evolução e o desenvolvimento podem ser muito rápidos e muito voláteis consoante tudo aquilo que está à nossa volta e consoante os nossos acontecimentos de vida. E uma fragilidade que hoje se verifica, pode deixar de se verificar amanhã, ou perder a sua intensidade e expressividade. Assim, ao atribuirmos um rótulo, seja ele um diagnóstico ou uma característica mais vincada, temos tendência a - mesmo sem querer - perpetuar as fragilidades que identificamos quer em crianças, quer em adultos.


Para além disso, é à custa destes rótulos que, muitas vezes, contribuímos para a consolidação de inseguranças internas e de lados menos bonitos que vão surgindo no desenvolvimento quer de crianças, quer de adultos. Assim, é essencial que tenhamos todos presente que mais do que um rótulo ou um diagnóstico, qualquer um de nós precisa essencialmente de uma compreensão clara sobre as suas fragilidades e de estratégias eficazes para fazer face a essas fragilidades, sem que a identificação dessas fragilidades implique um rótulo que as faça perpetuar pela vida fora.



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